segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Maturidade

Ao despertar, vejo o sol despontar
para mais um dia de terrível calor.
É verão e a praia está distante,
embora não tanto quanto a juventude.
– Tornei-me homem!
Os amores de mar passaram,
passaram os veraneios e as horas vãs,
passaram os anos de aventura e risos.
– Ao menos trabalho sem grandes pesares.

Levanto-me para restaurar o presente.
A mesa está posta como sempre esteve.
O pão, o café que mal tomo,
a bolacha doce de chocolate ruim.
Em poucos instantes, terei de sair
e fingirei que tudo está bem,
adulto maduro que sou.

Mais tarde, quando ao meio dia o sol estiver a pino,
farei meu almoço de arroz com feijão
e ovos estalados à moda escrava.
Sentarei à mesa, porei farinha no meu prato,
e mastigarei um pouco do passado,
degustando o amargo desta prisão,
nostalgia.

De noite, chegado em casa para o sono,
acabarei enfim por me despir
antes de deitar-me em silêncio na cama de velhos sonhos.
É preciso dormir.
Estou nu frente à memória
e não posso amá-la.

3 comentários:

  1. Ela, amante mais dedicada, a que nunca se nega.
    Que ouve meus pensamentos, que preenche o vazio
    Ela que conforta meu ser adulto
    que me conta de como ri, de quando me aventurei
    que me traz de volta o calor dos afetos antigos
    Ela que me ensina, mestra delicada e discreta, apontando meus erros, me dando a certeza dos acertos.
    Ela que me faz saber quem sou e me coloca no centro de mim mesma
    Ela que encontra o fio da meada e me explica como cheguei aonde estou.
    (E os porques, de souber ler nas entrelinhas).
    Ela, mãe de todas as artes, eminência parda de toda inspiração
    Como não amá-la, memória minha,
    Se ela contém todas as chaves, da tristeza à alegria;
    da resignação à outra vida.


    Que bom vê-lo de volta,
    ainda que sombrio,
    talvez esquecido dos que viajam com você

    Abraço,
    Raquel

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  2. o texto ao modo de poema está belo, belo. Segue aqui um pequeno poema curto de minha autoria que diz algo sobre o pensamento de quem se deslocou.

    Raízes - Iracema Macedo


    " Para quem não tem mais
    pátria, talvez escrever
    seja a única morada" -
    Theodor Adorno

    E me perguntam onde estou
    E me perguntam onde moro
    Tornaram-se enfim questões
    {delicadas
    Estou morando em minhas palavras
    às vezes sede, às vezes navalha
    às vezes também girassóis e asas

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  3. muito bonito!
    caminho por aqui as vezes, em silêncio....porque vc me ensinou a caminhar assim e sentir tudo o que está em volta das palavras, do silêncio.
    bj. ana

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