Ao despertar, vejo o sol despontar
para mais um dia de terrível calor.
É verão e a praia está distante,
embora não tanto quanto a juventude.
– Tornei-me homem!
Os amores de mar passaram,
passaram os veraneios e as horas vãs,
passaram os anos de aventura e risos.
– Ao menos trabalho sem grandes pesares.
Levanto-me para restaurar o presente.
A mesa está posta como sempre esteve.
O pão, o café que mal tomo,
a bolacha doce de chocolate ruim.
Em poucos instantes, terei de sair
e fingirei que tudo está bem,
adulto maduro que sou.
Mais tarde, quando ao meio dia o sol estiver a pino,
farei meu almoço de arroz com feijão
e ovos estalados à moda escrava.
Sentarei à mesa, porei farinha no meu prato,
e mastigarei um pouco do passado,
degustando o amargo desta prisão,
nostalgia.
De noite, chegado em casa para o sono,
acabarei enfim por me despir
antes de deitar-me em silêncio na cama de velhos sonhos.
É preciso dormir.
Estou nu frente à memória
e não posso amá-la.
Ela, amante mais dedicada, a que nunca se nega.
ResponderExcluirQue ouve meus pensamentos, que preenche o vazio
Ela que conforta meu ser adulto
que me conta de como ri, de quando me aventurei
que me traz de volta o calor dos afetos antigos
Ela que me ensina, mestra delicada e discreta, apontando meus erros, me dando a certeza dos acertos.
Ela que me faz saber quem sou e me coloca no centro de mim mesma
Ela que encontra o fio da meada e me explica como cheguei aonde estou.
(E os porques, de souber ler nas entrelinhas).
Ela, mãe de todas as artes, eminência parda de toda inspiração
Como não amá-la, memória minha,
Se ela contém todas as chaves, da tristeza à alegria;
da resignação à outra vida.
Que bom vê-lo de volta,
ainda que sombrio,
talvez esquecido dos que viajam com você
Abraço,
Raquel
o texto ao modo de poema está belo, belo. Segue aqui um pequeno poema curto de minha autoria que diz algo sobre o pensamento de quem se deslocou.
ResponderExcluirRaízes - Iracema Macedo
" Para quem não tem mais
pátria, talvez escrever
seja a única morada" -
Theodor Adorno
E me perguntam onde estou
E me perguntam onde moro
Tornaram-se enfim questões
{delicadas
Estou morando em minhas palavras
às vezes sede, às vezes navalha
às vezes também girassóis e asas
muito bonito!
ResponderExcluircaminho por aqui as vezes, em silêncio....porque vc me ensinou a caminhar assim e sentir tudo o que está em volta das palavras, do silêncio.
bj. ana