terça-feira, 31 de agosto de 2010

Jornalístico II

“A tabela periódica deve ficar maior: três laboratórios independentes criaram átomos com 114 prótons em seu núcleo. Em 1999, pesquisadores do Instituto de Pesquisa Nuclear em Dubna, Rússia, afirmaram ter criado átomos do elemento 114. Mas não havia confirmação independente. Agora, dois outros laboratórios também conseguiram fabricar o elemento. (...) As propriedades químicas do elemento 114 ainda são uma incógnita. O elemento pode ser tanto um gás nobre quanto um metal dependendo de seu comportamento.” (New Scientist/ Folha online 24/06/2010 às 18h)
É engenhosa a inteligência humana. Ela inventa coisas: a música, a roda, a guerra, a verdade, a panela, o chinelo... E agora resolveu criar também mais um elemento químico. Será que não bastavam aqueles outrora descobertos e os poucos já sintetizados? Velhos tempos os dos alquimistas, que buscavam o auto-conhecimento na simbólica transformação do ouro em chumbo!

– Mendeleiev, adicionai mais um!, devem comemorar, com um brinde de vodka, os cientistas que primeiro fundiram o cálcio (Z 20) ao plutônio (Z 94).
– Que conquista!, dirão os leitores dos jornais, desorientados como bêbados, mas estupefatos com mais um prodígio feito em laboratório.

Surpresa maior, porém, é não saber o que é esse elemento. Um gás nobre? Um metal? Como assim? Como poderia ser ele duas coisas tão opostas? Não existe uma contradição? E, ademais, se podemos criá-lo, como não saber o que é? Fabricamos um micro Frankenstein? Há que esperar seu comportamento, respondem laconicamente os químicos, que também ainda não sabem que nome lhe dar.

Curioso esse elemento 114. Conhecemos seu núcleo, realizamos sua síntese, dominamos a essência de sua estrutura; contudo, não sabemos o que vem a ser. Imprevisível, ele é um paradoxo. Que tal chamá-lo... humano?

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Incerta Madrugada

É tarde para um homem de labor.
Sou eu, porém, quem resiste ao sono.
Só com o vinho,
que nunca me traiu,
divago
entregue à escuridão.
Estrelas tênues, meus olhos cintilam,
mas nada vêem nem iluminam
– luz de cinzas.
(O presente é eterno e oco.)

A noite adentra o silêncio
e as cigarras zunem, solitárias.
Musas telúricas,
seu canto é mudo, não me revela sinais.