sábado, 7 de março de 2015

O cego

O cego no sinal, maltrapilho e esquálido,
tateia os carros em busca de moedas.
Embora jovem,
é um pouco corcunda e anda vacilante.
Diria que caminha com medo,
não fosse a cegueira,
não fosse a fome.
Sobre o passeio,
sua blusa de frio,
disposta no espaldar de uma cadeira quebrada,
encontra descanso ao lado de um cabo de vassoura.
Ele próprio, sinal aberto,
recosta-se na árvore perto do poste.
Às vezes senta-se no chão,
puxando os pés para perto do meio fio.
Se reclama da vida, ninguém sabe.
Ninguém lhe pergunta nada,
mal lhe respondem quando estende a mão.
O cego certamente já sabe lidar com o desprezo
e, no silêncio, sofrer sem alarde.
Diferente de nós,
ele vive apenas no escuro.