Já não lembro mais quando aconteceu a festa de aniversário: gente empolgada e bêbeda, salgadinhos sem novidade, músicas da moda – uma comemoração como tantas outras, não fosse por ter transformado num questionamento existencial uma dúvida comum: devo ou não devo comer do bolo?
É curioso como nosso pensamento vagueia. Às vezes, a partir de uma questão banal, somos transportados para terras longínquas. Pensando sobre o bolo e todo aquele açúcar, ocorreu-me o que um tio sarcástico dissera-me há anos a propósito de minha recusa em comer bobagens: “Você vai morrer com saúde!” ou, o que dá na mesma, “Você será o defunto mais saudável do cemitério, parabéns!” É um comentário espirituoso, reconheço, mas menos pela crítica à dieta (na verdade, nada além da exclusão de excessos) do que pelo apelo à morte. Sabemos que todos morreremos, mas será que, tendo a morte como perspectiva, estamos autorizados a fazer qualquer coisa?
São Paulo ou simplesmente Paulo, a depender da fé, possui uma frase extraordinária: “Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, pois amanhã morreremos.” (1 Cor 15:32) Destaca-se aí o pressuposto de que, se a vida não possui um sentido maior, dado neste caso pela crença religiosa, resta-nos aproveitar ao máximo os dias que temos sobre a Terra realizando todo e qualquer desejo. Carpe diem! Séculos depois, a partir da leitura de Dostoievski, Sartre haveria de formular uma interrogação que toca no mesmo problema: “Se Deus não existe, tudo é permitido?”
É impressionante como a morte regula nossas ações, quer pelo medo do que virá depois, quer pelo fato de representar o fim absoluto, móbil esse muito mais persuasivo, já que ninguém sabe se de fato existe o post mortem. Mas é impressionante também como normalmente evitamos pensar na morte, valendo-nos dela apenas em momentos oportunos, em especial quando nos falta coragem para tomar uma decisão. Ponderamos: “A vida é curta e está sempre por um triz. E se eu morrer amanhã?” Assim angariamos forças para mudar de emprego, pedir perdão ou dizer ‘te amo’. Quem sabe ainda para cometer loucuras ou pequenos pecados. É inegável: a morte nos incita ao ato. Será, porém, que justifica tudo? Até comer uma fatia de bolo?
É curioso como nosso pensamento vagueia. Às vezes, a partir de uma questão banal, somos transportados para terras longínquas. Pensando sobre o bolo e todo aquele açúcar, ocorreu-me o que um tio sarcástico dissera-me há anos a propósito de minha recusa em comer bobagens: “Você vai morrer com saúde!” ou, o que dá na mesma, “Você será o defunto mais saudável do cemitério, parabéns!” É um comentário espirituoso, reconheço, mas menos pela crítica à dieta (na verdade, nada além da exclusão de excessos) do que pelo apelo à morte. Sabemos que todos morreremos, mas será que, tendo a morte como perspectiva, estamos autorizados a fazer qualquer coisa?
São Paulo ou simplesmente Paulo, a depender da fé, possui uma frase extraordinária: “Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, pois amanhã morreremos.” (1 Cor 15:32) Destaca-se aí o pressuposto de que, se a vida não possui um sentido maior, dado neste caso pela crença religiosa, resta-nos aproveitar ao máximo os dias que temos sobre a Terra realizando todo e qualquer desejo. Carpe diem! Séculos depois, a partir da leitura de Dostoievski, Sartre haveria de formular uma interrogação que toca no mesmo problema: “Se Deus não existe, tudo é permitido?”
É impressionante como a morte regula nossas ações, quer pelo medo do que virá depois, quer pelo fato de representar o fim absoluto, móbil esse muito mais persuasivo, já que ninguém sabe se de fato existe o post mortem. Mas é impressionante também como normalmente evitamos pensar na morte, valendo-nos dela apenas em momentos oportunos, em especial quando nos falta coragem para tomar uma decisão. Ponderamos: “A vida é curta e está sempre por um triz. E se eu morrer amanhã?” Assim angariamos forças para mudar de emprego, pedir perdão ou dizer ‘te amo’. Quem sabe ainda para cometer loucuras ou pequenos pecados. É inegável: a morte nos incita ao ato. Será, porém, que justifica tudo? Até comer uma fatia de bolo?