We found love in a hopeless place. Eis o refrão de uma música bastante tocada na noite. É de uma canção que conheci muito recentemente e à qual nunca havia dado grande atenção até reparar sua letra. Confesso que a escuto com um sorriso nos lábios, pois acho uma grande ironia a massa informe das boates repetir aos gritos uma afirmação tão inverossímil.
Who has ever found love in a hopeless place?, pergunto a mim mesmo, sem vislumbrar qualquer resposta. Concebo a noite como a expressão máxima do “Quadrilha” do Drummond: João amava Tereza, que amava Raimundo, que amava Maria... E digo expressão máxima porque não há lugar onde se dê maiores desencontros do que na noite.
Durante certo tempo (e às vezes até hoje), saí (e saio) pras baladas nutrindo certa esperança de encontrar alguém com quem possa estabelecer um vínculo que ultrapasse o ficar. Mas a verdade é que a gente logo se desencanta ao se dar conta, depois de desencontros mais ou menos dolorosos, que está a buscar uma agulha no palheiro. A impressão que se tem é que ninguém quer nada sério, como normalmente se diz. Às vezes, chega a assolar-nos um desânimo profundo, que nos afasta da noite, desânimo proveniente do desejo ferido pela busca do quase-impossível. Who, who, who has ever found love in a hopeless place?
E não é pra menos, a gente há de convir. ‘Boate’ vem do francês boîte, caixa, e realmente parece não passar disto: uma caixa cheia de peças que, sacolejadas por um DJ, são levadas a ter encontros aleatórios umas com as outras. Fosse outro o sacolejo, outros seriam os encontros, ou melhor, desencontros. Como se percebe acompanhando as baladas, tudo (as músicas, os passos, as bebidas, as roupas, os lugares) se repete desesperadamente, exceto o arranjo – sempre variável – das peças, que em nada é afetado quando uma delas decide sair, quem sabe por desilusão, quem sabe por pensar no J. Pinto Fernandes, se é que ele ainda quer entrar na história.