pra Xica
“Encontrei
um emprego e perdi a mim mesmo”. Num primeiro momento, não me dei conta do que havia
escrito. Só no dia seguinte, pensando na conversa que tive com um amigo que não
via há tempos, espantei-me com a síntese que fiz dos últimos anos da minha
vida. Como são perigosas essas conversas nas quais, em poucas palavras,
tentamos resumir o fundamental do que se passou conosco! De repente, sem perceber,
levantamos a espada e cortamos a própria cabeça.
Certa
vez, um primo me disse: cheguei aos quarenta e nada se resolveu. Achei
fascinante (óbvio, mas fascinante) e passei a gostar mais dele por causa disso.
Eu me identifiquei: metade da vida se foi, as irresoluções permanecem e nós
ainda a insistir no desejo de vê-las extintas. Não finco o pé no que vou dizer,
mas creio que só nos tornamos adultos quando aceitamos que os problemas, ao
menos os verdadeiros, são todos insolúveis e que é vão desesperar-se.
Contudo,
confesso que frequentemente me pego fantasiando o sentimento de voltar ao
passado e encontrar o ponto onde me perdi, onde os problemas começaram a brotar.
Sei que não foi o emprego. Sei que não foi a formatura. Sei que não foi o
casamento desfeito. No fundo, não há um ponto onde nos perdemos, ao qual
poderíamos voltar para retificar o rumo, como se a certa altura da vida
tivéssemos tomado o caminho errado. A fantasia é justamente supor que a vida
teria um caminho certo e que, retrocedendo, teríamos a chance de nos reaprumar.
O fato é que estamos irremediavelmente perdidos, emaranhados em nossos problemas, irresoluções. A alternativa que nossa fantasia oferece é, num certo sentido, recobrar a infância. Impossível, evidentemente. É mais honesto rezar, parece-me, porque esperar uma solução milagrosa é um modo de admitirmos nossa fraqueza. A bem da verdade, porém, conceber a vida como um caminho talvez seja o nosso único e grande erro: a gente acaba encasquetando com a imagem do caminho certo e depois – o caso das mães é exemplar – nós já estamos a nos martirizar perguntando onde erramos, em que ponto nos perdemos. Ao invés de buscar nos encontrar, resolver de vez nossos problemas, talvez o que a gente precise mesmo é de novas metáforas para a vida.
O fato é que estamos irremediavelmente perdidos, emaranhados em nossos problemas, irresoluções. A alternativa que nossa fantasia oferece é, num certo sentido, recobrar a infância. Impossível, evidentemente. É mais honesto rezar, parece-me, porque esperar uma solução milagrosa é um modo de admitirmos nossa fraqueza. A bem da verdade, porém, conceber a vida como um caminho talvez seja o nosso único e grande erro: a gente acaba encasquetando com a imagem do caminho certo e depois – o caso das mães é exemplar – nós já estamos a nos martirizar perguntando onde erramos, em que ponto nos perdemos. Ao invés de buscar nos encontrar, resolver de vez nossos problemas, talvez o que a gente precise mesmo é de novas metáforas para a vida.