Dizem que o bom filho à casa torna. Não sei de onde vem tal ditado, incerto como outros da tradição popular, nem bem o que significa. Penso nos maus filhos: eles não retornam... O que isso quer dizer? Será que abandonam os pais na velhice? Ou perdem suas raízes a ponto de não mais se identificarem com o passado que os formou? Já os bons, esses voltam, mas qual o sentido do retorno? – Quem sabe? Quem saberá?
De certo, apenas o seguinte: só retorna quem partiu, quem ousou ou teve de se separar, quem enfrentou o medo de pôr os pés em terra incógnita, rompendo vínculos antigos, sem saber o que lhe adviria; só retorna quem não deixou a distância corroer os laços pretéritos, quem cativou a boa memória, mantendo acesa a chama do afeto e da falta.
Com o regresso, entretanto, como ficam as novas amizades? As descobertas? Os colegas interessantes? A paisagem até então desconhecida? Tudo que ficou por explorar? E o novo amor? Como fica o futuro que se previa ter, desfeito pela volta à origem? E a coragem para mais uma vez recomeçar, donde há de vir?
É inegável: permanência e volta são, ambas, desafiadoras e dolorosas. Para quem manteve o peito aberto, para quem realmente calcou os pés na nova terra, o retorno implica deixar uma nova casa, a custo constituída, a fim de remontar à velha morada, que não se sabe mais como está. Ficar ou regressar são alternativas imponderáveis e por isso não há, como pressupunha o ditado, filhos maus ou bons. Quando o retorno é uma nova partida, enfrenta-se uma escolha radical: difícil como conviver com a saudade, difícil como dizer adeus.
depois que li e reli:
ResponderExcluirserá que a partida real existe? Talvez vc vá e deixe pedaços seus por todo canto que passou (não indo embora por inteiro) e leve mais um tanto (não regressando o mesmo nem por completo).
Bonito é a falta que deixa... =]
Concordo com sua visão da partida e do retorno. Também não sei muito bem diferenciar os dois. Pois, e quando a partida é um retorno para dentro de si, um mergulho nas raízes que carregamos? Nesse caso a partida pode ser um novo retorno, e no seu caso também, retornas ao novo. No fundo, como disse Kavafis, em Ítaca: "quando partires de regresso a Ítaca". Será que não estamos sempre retornando, buscando o começo da partida, tentando entendê-lo, ou sentí-lo plenamente? Me parece que sim. E, apesar de ser bonito o que diz X, também um pouco verdadeiro, pois a saudade é a consagração do amor, mais bonito é a presença de quem foi, e que por sorte volta. Porque, se assim não fosse, a saudade não faria sentido, temos falta de você porque o queremos perto. Aqueles que não o tem só podem se contentar com a saudade, que também é bela, mas não mais que a presença real. Por isso, toda partida é real, seus pedaços ficam nas memórias dos outros que só tem elas para se consolar.
ResponderExcluirTe ajudaremos aqui a conviver com a imponderável saudade que já parece sentir, matando a saudade que já sentimos.
Quanto ao ditado, não concordo muito com tua interpretação. Ele me parece bem simples, é de uma mãe que nunca quer que o filho parta. Uma mãe, como quase todas, que quer o filho para si e que considera um bom filho aquele que retorna, e mau o que não mais retorna. Me parece um ditado egoísta e parcial. Não está em jogo o bom e o mau filho, mas o que volta pro colo da mãe. O que não saiu de casa por inteiro, estando sempre tutelado pela mãe que não quer expulsá-lo.
Há uma música linda do Caetano, cantada junto com a Betânia:
Tudo De Novo
(Caetano Veloso)
Minha mãe, meu pai, meu povo
Eis aqui tudo de novo
A mesma grande saudade
A mesma grande vontade
Minha mãe, meu pai, meu povo
Minha mãe me deu ao mundo
De maneira singular
Me dizendo a sentença
Pra eu sempre pedir licença
Mas nunca deixar de entrar
Meu pai me mandou pra vida
Num momento de amor
E o bem daquele segundo
Grande como a dor do mundo
Me acompanha onde eu vou
Meu povo, sofremos tanto
Mas sabemos o que é bom
Vamos fazer uma festa
Noites assim, como essa
Podem nos levar pra o tom
Abraço a vc a ao X,
Luiz Felipe.
Essas coisas da vida são sempre engraçadas de alguma forma.Ao voltar pra casa, se parte de uma para outra. Acontece comigo também agora.Eu que voltei daqui enlouquecida de felicidade por voltar pra casa agora volto pensando que eu não poderia estar em lugar melhor.é mesmo difícil deixar o que fica, aqui e lá, mas deixar é necessário.Principalmente quando as coisas se tornam agudas e repetitivas. E talvez, depois de um tempo, tudo se torne meio afiado.Enfim.
ResponderExcluirAgora que estou de volta a Petrolina, resta dizer que você fará falta.
Um beijo grande.
P.S:quando você vai?
talvez porque é impossível retornar quando tudo já mudou como muda a cada instante então partimos na ilusão de um retorno, que pode ser bom.
ResponderExcluirEi Flávio, retornas, entao? Daqui a pouco serei eu na minha nova partida de retorno... Muitos beijos e saudade! Maira
ResponderExcluirUma música de Oswaldo Montenegro:
ResponderExcluir"Toda vez que eu volto
Tô partindo
E no sentido exato
É por saudade
Ah! coração taí a festa
E nós
Por aí vai
Nossa colorida idade..."
Partida e retorno: dois lados de uma moeda...ilusão-véu, nesciência.
ResponderExcluirDualidade e multiplicidade? Unidade.
Por onde andamos, deixamos pegadas, marcas, sons, vestígios de várias formas, silêncio.
Centro e periferia: centralidade.
Cidadecampo, natureza.
Conhecimento.
V(oltar)er, Amar é...
Elisa Franca e Ferreira