terça-feira, 25 de maio de 2010

Resposta

Surpreende-me a demanda que freqüentemente chega até mim por parte de meus alunos. “Mas qual é a resposta, professor?” “Não gosto de assuntos que não têm uma resposta exata.” Em classe, contenho-me, mas, entre amigos, confesso sem pestanejar: escuto com tristeza esse tipo de comentário. E a razão é simples: soa-me uma exigência absurda, uma demanda indigna – o que, na vida, possui uma resposta definitiva? Enfrentando a morte, procurando o sentido para a existência, perguntando-se o que é o amor, quem jamais encontrou a resposta final?

Reconheço que um anseio dessa natureza, o anseio pela resolução, seja recorrente, mas não consigo julgá-lo doutro modo exceto como tolo. Mais do que isso, julgo-o reflexo de uma incompreensão da vida. Quem, com sinceridade, poderia dizer que, ao observar o mundo, alcançou algo seguro, exato, permanente? É preciso lembrar que tudo está em movimento, que a mudança é a única realidade? E, se assim é, donde esse ímpeto pela fixidez?

Como professor, nada me resta senão acolher os estudantes e buscar introduzi-los, tanto quanto possível, no universo da incerteza, nossa única morada. Filósofo, repilo a brutal ignorância que é relutar contra a dúvida fundamental de todas as coisas, que é querer uma solução para as grandes questões da vida. Temos de aprender a navegar sobre as águas da perplexidade e do paradoxo, pois o essencial permanece sempre irrespondido. Para as grandes perguntas, a única resposta honesta é que resposta não há.

3 comentários:

  1. "Que eu tenha um juízo ab-eterno
    E sempre a mesma opinião
    Mas por que devo suar no inverno
    só porque o fiz no verão?"
    "LVIII. Do direito de contradizer-me".


    "Se te contradisseste e acusam-te... sorri.
    Pois nada houve, em realidade. Teu pensamento é que chegou, por si,
    ao outro pólo da Verdade..."
    "XXXVII. Da contradição"

    Mario Quintana. Espelho mágico.

    Janaína.

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  2. às vezes a gente é meio tolo mesmo... não tem jeito.

    eu tinha um professor de português que quando a gente escrevia jeito com "g", ele falava: jeito é com "j" jumento, rs. ele devia ser meio tolo também.

    Janaína.

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  3. "Quem, com sinceridade, poderia dizer que, ao observar o mundo, alcançou algo seguro, exato, permanente?"
    R.: Descartes, talvez.

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