graças a Moacyr Scliar
para os amigos professores
“A Polícia Militar do Pará vai abrir procedimento administrativo para identificar os policiais envolvidos em um vídeo postado no último sábado no You Tube. Nas imagens, os policiais fazem adolescentes apreendidos dançarem o hit baiano “Rebolation”. Para a PM, as imagens constrangem toda a tropa e a ação será punida. No vídeo, três adolescentes aparecem com as mãos para cima, encostados numa parede. Um dos policiais diz que vai gravar os três dançando o Rebolation e prepara o celular para a gravação. Os próprios PMs cantam a música e mandam que os adolescentes dancem. Durante a gravação, mandam os meninos sorrirem.” (CBN, O Globo, 01/06/2010 às 8:16)
Espancamentos e humilhações eles nunca aceitaram. Contudo, nunca se iludiram: eram minoria. E minoria mesmo. Tanto na corporação quanto na sociedade. O usual é bater, maltratar, deixar bem claro para o bandido (mesmo quando é só suspeito) quem manda e quem deve obedecer. Ainda mais em casos nos quais se lida com jovens, que, como todo mundo sabe, estão super-protegidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. O certo – quem há de negar? – é logo dar uma sova para o garoto ficar esperto e tomar vergonha na cara.
Acontece que aquele pequeno grupo, que se recusava a espancar e humilhar, não partilhava desse ponto de vista. A truculência é nociva: deseduca e revolta. Se vivemos numa sociedade excludente, que produz e alimenta brutalidades, o que se precisa é do contrário. Como água sobre o fogo, deve-se combater a grosseria com a delicadeza. Era este seu princípio: nunca alimentar as chamas, mas extingui-las com seu exato oposto, mesmo que isso exigisse pulso firme.
Foi assim até o dia em que tiveram sua ação flagrada, ou melhor, gravada e lançada na internet. Naquela ocasião, tendo em mãos três jovens, eles fizeram o seguinte, como revelou o vídeo: na delegacia, puseram-nos sentados numa mesa bem arrumada, deram-lhes lanche e os obrigaram a ouvir Beatriz à exaustão, sempre na voz de Milton Nascimento. Depois, levaram-nos para fora, junto a um jardim de azaléias, e exigiram que cantassem a música. Os dois que erraram a letra tiveram de abrir ao léu o Viagem da Cecília Meireles e decorar o primeiro poema da página. Aquele pequeno grupo de policiais fazia tudo com rigor para não perder a autoridade, mas com cuidado e finura, embora se ouvisse uma ou outra invectiva.
Um verdadeiro crime, como disse o presidente da ordem dos advogados numa entrevista na TV, já que o episódio causou espécie. “Donde já se viu submeter jovens a isso? Subjugar, torturar psicologicamente? É preciso que se abra um processo administrativo, que se faça valer a constituição!” Não demorou para que os policiais, reconhecidos, fossem afastados de suas funções. Afinal de contas, não se pode coagir ninguém a nada, nem à beleza. Legal é só a detenção, o julgamento, a prisão.
Espancamentos e humilhações eles nunca aceitaram. Contudo, nunca se iludiram: eram minoria. E minoria mesmo. Tanto na corporação quanto na sociedade. O usual é bater, maltratar, deixar bem claro para o bandido (mesmo quando é só suspeito) quem manda e quem deve obedecer. Ainda mais em casos nos quais se lida com jovens, que, como todo mundo sabe, estão super-protegidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. O certo – quem há de negar? – é logo dar uma sova para o garoto ficar esperto e tomar vergonha na cara.
Acontece que aquele pequeno grupo, que se recusava a espancar e humilhar, não partilhava desse ponto de vista. A truculência é nociva: deseduca e revolta. Se vivemos numa sociedade excludente, que produz e alimenta brutalidades, o que se precisa é do contrário. Como água sobre o fogo, deve-se combater a grosseria com a delicadeza. Era este seu princípio: nunca alimentar as chamas, mas extingui-las com seu exato oposto, mesmo que isso exigisse pulso firme.
Foi assim até o dia em que tiveram sua ação flagrada, ou melhor, gravada e lançada na internet. Naquela ocasião, tendo em mãos três jovens, eles fizeram o seguinte, como revelou o vídeo: na delegacia, puseram-nos sentados numa mesa bem arrumada, deram-lhes lanche e os obrigaram a ouvir Beatriz à exaustão, sempre na voz de Milton Nascimento. Depois, levaram-nos para fora, junto a um jardim de azaléias, e exigiram que cantassem a música. Os dois que erraram a letra tiveram de abrir ao léu o Viagem da Cecília Meireles e decorar o primeiro poema da página. Aquele pequeno grupo de policiais fazia tudo com rigor para não perder a autoridade, mas com cuidado e finura, embora se ouvisse uma ou outra invectiva.
Um verdadeiro crime, como disse o presidente da ordem dos advogados numa entrevista na TV, já que o episódio causou espécie. “Donde já se viu submeter jovens a isso? Subjugar, torturar psicologicamente? É preciso que se abra um processo administrativo, que se faça valer a constituição!” Não demorou para que os policiais, reconhecidos, fossem afastados de suas funções. Afinal de contas, não se pode coagir ninguém a nada, nem à beleza. Legal é só a detenção, o julgamento, a prisão.
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