Imaginemos a seguinte situação: um
macaco digitando numa máquina de escrever durante um tempo infinito. O que
resultaria disso? Um monte de palavras e textos absolutamente sem sentido, mas,
em algum momento, dizem os estatísticos, a obra completa de Shakespeare.
Foi isso o que escutei recentemente,
quando jantava com um amigo e comentei a frustração com a noite, com a
possibilidade de começar um bom relacionamento a partir de um encontro na
balada. “Saia mais vezes”, disse ele, “assim você aumenta a probabilidade de
achar alguém interessante.” É claro que, quanto mais vezes sairmos, maior a
chance de um encontro frutífero, mas “o tempo infinito”, respondi-lhe, “é muito
longo para mim!”
Convenhamos,
é muito improvável que um macaco tecle a obra de Shakespeare num intervalo
finito, ainda mais curto como nossas vidas, curtíssimo como a juventude. No
universo de possibilidades da noite, apenas uma coisa é certa: a balada
realmente nos parece um evento aleatório no qual nossa chance de sucesso é
baixa. Apesar disso, tal qual numa loteria, insistimos em jogar porque
acalentamos uma esperança improvável, porque o desejo de ganhar sobrevive ao
desgosto das perdas. Afinal de contas, pensamos nós, quem não arrisca não
petisca. Ou será que devemos desencanar
e parar de apostar no inesperado?
Depois do jantar e de chegar em casa, fiquei meditando sobre a obra de
Shakespeare (“vai demorar demais até o macaco digitar tudo!”) e fiz algumas
especulações que não me levaram a lugar algum, apenas aumentaram o desânimo que
havia comentado com meu amigo. Se não podemos estar matematicamente certos de
que encontraremos alguém interessante na noite, dado que nosso tempo não é
infinito, o que nos resta fazer? Intensificar o número de saídas não adianta.
Isso soa mais como a plena realização do ninguém é de ninguém: a
macacada na pegação geral! Haveria, contudo, uma alternativa que não seja
contar com a sorte? Quem souber, por favor, me diga, mas não vale a novena de
Santo Antônio.
Nossa, amarraste muito bem as idéias! Parabéns!
ResponderExcluirAinda bem que você já sinalizou que não quer
ResponderExcluiro apoio de Santo Antônio. Dizem que o cara é o maior pirareta e também um desesperado. Para as mulheres desvirarem sua estauta - que há dias estava de cabeça para baixo em forma de punição - ele envia o(a) primeiro(a) parceiro(a) para elas e não podem devolver o pruduto. Mas dizem que é melhor pedir para São José, o terno homem, é mais direito no enviou produto rsrsrs...
Não sei qual é o caminho, contudo costumo esperar, esperar, esperar... enquanto isto o macaco fica teclando no facebook rsrsrs
Acredito que você vai conseguir sua tampa da panela rsrsrs (Ah, às vezes ela vem um pouco amassada e sem brilho)
Aline Rodrigues
O argumento do macaco digitador aparece também em discussões sobre evolução das espécies e criacionismo. Lá é usado como argumento apoiando a impossibilidade (ou improbabilidade) da seleção natural produzir maravilhas como o olho humano. A solução dos biólogos evolucionários talvez lhe ajude: se esperarmos pelo acaso puro e simples, provavelmente não teremos a seleção de algo como um olho humano no período em que este evoluiu; é preciso acrescentar na equação a SELEÇÃO com base em critérios definidos (no caso a sobrevivência).
ResponderExcluirMinha sugestão seria introduzir algum nível de seleção: dos locais frequentados, de com quem nos organizamos para sair para a balada. O acaso ainda terá seu espaço, mas será reduzido - e ao longo do tempo subordinado a um critério maior (um relacionamento de revelações profundas).
Abraços
Centauro: em primeiro lugar, qual metade deseja-se completar: a metade humana ou a metade equina? Ou deseja o todo quimérico, ao mesmo tempo humano e bestial?
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