É impossível – e falso – dizer que
todas as pessoas que vão para a balada têm como objetivo principal ficar com
alguém. Há muita gente que sai exclusivamente para beber um pouco e dançar, sem
a preocupação de pegar ninguém, e certamente há muitos outros fins a guiar quem
está na noite. Só que boa parte das pessoas, como bem sabemos, vai mesmo para a
balada a fim de beijar e otras cositas más, se por ventura rolar. As
boates reúnem um monte de peças que estão à flor da pele, loucas para encontrar
seu encaixe. Há uma urgência, a do desejo aflorado, que, aliada à altura do som
e ao movimento da dança, acaba por resultar num ambiente de pouco diálogo e
muitas interações. É como se houvesse uma equação: som alto + ânsia em ficar
com alguém = pouca conversa e pegação. Se a potência das caixas de som não
convida ao diálogo e quero logo pegar alguém, por que vou perder tempo rendendo
assunto?
Entretanto, se a finalidade é ficar com alguém, é
preciso que as pessoas se comuniquem, demonstrem seus desejos umas às outras e
assim construam os elos que permitirão as abordagens ou fecharão as portas para
a aproximação. Essa comunicação, é desnecessário dizer, não se faz com
palavras. É por meio de um diálogo não-verbal que os desejos se entendem, em
especial quando estamos na pista. Tudo ou quase tudo se resolve pelo olhar e a
aproximação apenas concretiza aquilo que já havia sido acordado
silenciosamente. Como conseqüência, a conversa se torna um excesso a ser
evitado e, quando existe, opera como uma formalidade, já que as abordagens
diretas, o “chegar chegando”, podem soar grosseiras, mesmo quando os olhos já
disseram sim.
Tal é a dinâmica da balada, ao menos como me
parece. Para os habitués da noite, talvez seja possível detectar o tipo
de abordagem mais eficiente a partir dos diferentes olhares. Há olhares
oblíquos, vacilantes, acompanhados de um leve sorriso, da mão no cabelo. Há
outros ostensivos, explícitos, quase opressivos. A comunicação visual é cheia
de sutilezas que fazem com que a balada tenha um modo próprio de funcionamento,
até mesmo uma etiqueta, da qual faz parte falar pouco. Na balada, na pista,
sobretudo na pegação, o diálogo é quase uma gafe.
Surpreendente a delicadeza com que você tratou a balada - por muito que estejamos entre as luzes brancas dos monitores e das bibliotecas - achando ali, entre a multidão, prisma: os suaves gestos do silêncio, entre as muitas cores dos globos e das batidas. Lindo. Glauber!
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