Acho
que freqüentemente nos perguntamos se vamos encontrar alguém; se nós, que
estamos sozinhos, teremos a sorte de topar com uma pessoa que seja interessante
e nos desperte o desejo de construir uma relação amorosa. Transas são fáceis de
arrumar; boas amizades, nem tanto; já um amor... Tenho amigas (penso que isso
ocorre especialmente com as mulheres) que andam desesperadas; as que querem ter
filhos então, desesperadíssimas.
O
pior é que, pelo que parece, não adianta procurar um amor. Acho que todos
andamos um tanto desacreditados disso. Já procuramos muito, a fila já andou (e
anda) com certa velocidade, e nada! Nada de sério, digo. No máximo, namoros que
duram alguns meses, às vezes um ano e pouco, mas que terminam com o “estou
confuso”, “não sei bem o que quero”, “é melhor terminar, não quero te fazer
sofrer”. A velha ladainha que todos conhecemos. Sim, andamos muito perdidos,
mas será que isso explica os desencontros? Ou será que, no fundo, sem sequer
nos dar conta, temos evitado estabelecer um vínculo?
Honestamente,
parece-me que queremos sim estabelecer um vínculo afetivo, nem que seja por
medo de envelhecer sozinhos, mas o que acho curioso é o modo como concebemos o
amor. Tenho a impressão de que o imaginamos – e vivenciamos – como um evento
repentino. Nossa idealização é a de que, quando menos esperarmos, nós nos
veremos apaixonados. Não é esse nosso imaginário? A flechada do Cupido? De
repente, como dizem os ingleses, we fall
in love.
Certa
vez, há muitos anos, tive um amor à primeira vista. Logo eu, que não acreditava
nessas coisas. Tudo se passou no quintal da casa de um amigo em comum, numa
despretensiosa tarde de sábado. Foi um encantamento. Nunca havíamos nos visto,
mas, à medida que conversávamos, ficava claro que haveria algo entre nós. E
houve, desde o primeiro dia. No segundo ou terceiro mês de namoro, pensava que
poderia até me casar, mas tudo terminou antes que eu conseguisse compreender o
que havia se passado. Desde então, admito que fiquei mais aberto a essa
possibilidade, que nunca se repetiu...
Mas
a noção de amor como acontecimento não se reduz ao amor à primeira vista. Ocorre
de nos apaixonarmos por quem já conhecemos há tempos. Graças a alguma razão que
não compreendemos, pode emergir em nós um sentimento diferente e aquela pessoa,
até então amiga, passa a nos interessar como amante. Às vezes, somos capazes de
apontar um motivo ou outro: simpatia, inteligência, cortesia, humor, mas
sabemos que isso não explica nada. Normalmente, esses atributos sempre pertenceram
àquela pessoa. Nós é que nos alteramos e não sabemos o porquê ou como. O amor
nos escapa. Não há explicações possíveis. Alguma coisa se move em nós de modo
inesperado, alguma coisa simplesmente acontece. O amor nos arrebata, nos toma,
nos atinge, como a descoberta de um tesouro ou a de um câncer.