Confesso
que tenho me sentido um grande idiota. Sinto-me idiota pelo modo como sou
tratado no pós-balada, por assim dizer. Sabe aquilo de telefonar e não
conseguir conversar direito? De mandar sms
e não obter resposta? De ficar a ver navios? Sim, todos sabemos que os
encontros da noite, na maioria das vezes, não resultam em nada mesmo. No
entanto, não compreendo porque não podem render um diálogo, ainda que pequeno,
no dia seguinte ou nos dias que se seguem ao encontro. Acredito que as relações,
por mais superficiais que sejam, podem comportar um mínimo de gentileza, nem
que seja a de um “não” sincero, que é muitíssimo melhor do que qualquer
enrolação, pois evita que nos percamos em fantasias.
Em
certa ocasião, ao desabafar com uma amiga, ela tentou me consolar dizendo o que
muitos apontam: a balada é diversa e nela certamente há pessoas legais. O
desafio é encontrá-las. Entretanto, à medida que a fila anda (a minha e a de
meus amigos, cujas histórias acompanho) parece-me impossível fechar os olhos
para um fato: há muitas pessoas na noite fazendo as outras de idiotas. É comum
pedirem o número do celular e nunca telefonar; responderem mensagens de maneira
lacônica; e isso para não mencionar os casos de mentira ou dissimulação.
Pergunto-me, portanto: onde estão as pessoas legais?
No
fundo, intriga-me o quanto temos dificuldade em sermos sinceros, em jogarmos
limpo com os outros, como normalmente se diz. Se o interesse é apenas sexo
casual, por que não pode ser dito com todas as letras? A amiga com quem eu
conversava me aconselhava a não esperar muito das pessoas, a não esperar que
sejam sinceras. Entretanto, temo que a conquista dessa indiferença exija a
elaboração de uma crosta que, se me protege das indelicadezas e descasos, ao
mesmo tempo me impede de aproximar-me intimamente das pessoas. Não faço
cálculos, não fico medindo palavras ou atitudes com quem está ao meu lado,
mesmo que por uma única noite. Sei que em meus momentos de sofrimento eu me
culpo por ter me exposto mais do que deveria, por ter insistido num possível
amor, a despeito dos sinais de desprezo. Nesses momentos, sinto-me a pessoa
mais idiota do mundo e juro que, da próxima vez, será diferente. Nunca é – e eu
já não me importo mais.
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