Há
quem pense que o Don Juan gosta de mulheres. Não é verdade. Ele gosta da
conquista. Interessa-lhe ter uma mulher depois de outra para afirmar
continuamente sua capacidade de seduzir. Num certo sentido, as mulheres são
irrelevantes para ele, já que seu prazer está em possuir e descartar. Talvez se
possa dizer que o Don Juan é um grande vaidoso e que está voltado
exclusivamente para si mesmo. Ele jamais se envolve, jamais se abre, apenas usa
as mulheres para reiterar seu poder. Acredito que seja, por causa disso, um
grande solitário. A solidão, aliás, é a marca que acompanha quem tem uma fila
longa e sempre andando. As companhias fugazes não chegam a penetrar o reduto da
intimidade, ainda que nos revelem os caminhos de seus corpos.
Não
sei se podemos afirmar que o Don Juan é um canalha. Eu diria antes que é um
sofredor, aprisionado que está na impossibilidade de se relacionar com o mínimo
de aprofundamento. Quanto a mim, confesso que me identifico com o personagem.
Se muitas vezes sou feito de idiota (ou me deixo ser tratado como tal), outras
tantas sou eu quem chega, beija, transa e, no dia seguinte, não quer mais nada.
Não é muito do meu feitio, mas seria falso recusar-me a admitir que às vezes
faço dos encontros um mero passatempo ou uma oportunidade para descarregar a
libido sem usar minhas próprias mãos.
Nesses
momentos, sei que não vou me envolver afetivamente. Trata-se de divertimento e,
por conseguinte, despreocupo-me em pegar o telefone, anotar o email e mesmo
decorar o nome. Minha delicadeza consiste em deixar clara a natureza da
relação. Ao tratar alguém como objeto, acho justo informar a outra pessoa que
ela é descartável. Não nesses termos, evidentemente, porque há formas menos
amargas de sermos sinceros. Don Juan é um galanteador e sabe obter da vítima o
consentimento antes de sacrificá-la no altar de Eros.
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