domingo, 30 de março de 2014

Espelho


pra Rita

Olhar-se no espelho é sempre um susto.
A gente corta, mas os pêlos crescem.
A barba, os cabelos, ainda as unhas
– a vida, insistente, à nossa revelia.
Magro, costelas saltadas,
tenho a realidade a meus olhos:
ossos quebráveis, um tico de carne,
na testa um redemoinho que comanda o topete.
Pequena é nossa liberdade (sofrer?).
Sou mais que pó, eu sei,
sou também sebo e sujeira.
O corpo está além de nós.
Enxergar é a arte mais difícil.

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