Atualmente, é um lugar
comum tecer louvores à alteridade, como se o convívio com o “outro” fosse
fácil. Nunca foi. Nunca será. Para ser sincero, a exaltação do “diferente” é,
no mais das vezes, papagaísmo, coisa de quem não parou para pensar. Basta ver a disposição que temos
para ouvir opiniões das quais discordamos: rapidinho subimos o tom de voz, não raro
rangemos os dentes.
Confesso, porém, que tenho um especial pendor para as posições que me são
opostas. Acho bom me colocar em xeque, é um modo de tentar ver o mundo com outros olhos. Agrada-me
ter a sensação, ainda que ilusória, que não pauto o universo a partir de meu
umbigo.
Acontece que vivemos numa época em que ter opinião tornou-se obrigatório e, mais do que isso, ter opinião sobre tudo. Não quero fazer uma apologia
dos indecisos, nem dos medrosos em cima do muro, mas isso de ter de ter opinião
sobre todas as coisas é chato demais. Pergunta: quantas pessoas, amigos ou
conhecidos, você já viu pontificarem verdades em mesas de bar? Afeito à dúvida, tenho impaciência com
tantas opiniões tomadas como revelações.
Há quem fale em democracia
para defender o
direito de que
tenhamos opinião sobre tudo. Sim, pode ser, faz sentido. Não quero calar ninguém. Entretanto, quando
começaremos a falar de arrogância e despreparo? Para provocar
meus alunos, vez ou outra lhes digo: “a opinião de vocês não me interessa, me interessa a
capacidade de justificar bem a opinião que vocês têm, seja ela qual for!”. Em poucas palavras, eis minha preocupação: ler
antes de opinar,
refletir antes de debater. Fazemos tudo às pressas – comer, andar, transar – e o pensar está
seguindo a mesma toada, mas pensar é ruminar, deter-se. Ao menos em tese, não deveríamos tomar posição
apenas sobre os assuntos em que temos certo domínio? E isso se consegue lendo uma ou duas notícias de jornal?
Nunca me esqueci de uma
frase que ouvi um professor atribuir a Wittgenstein: “a filosofia é uma corrida cujo vencedor é aquele que chega em
último lugar.” No Grande Sertão: Veredas, amo a passagem em que Riobaldo afirma, depois de seu cavalo empacar:
“meu cavalo f’losofou.” Não é isto o fundamental: parar, demorar-se para poder aprofundar; ponderar antes de seguir adiante? Ademais, opinar sobre
tudo, mais do que render-se à superficialidade, não é pura vaidade?
Retomando as provocações a
meus alunos, penso que de fato temos direito a ter nossas opiniões, mesmo que
tolas, como tantas vezes são. Eu acho isso, eu acho aquilo, eu acho aquilo outro – é legítimo. Num sentido radical, dado que todos estamos sujeitos ao erro, a opinião de um estudioso
continua sendo uma opinião, um achismo, não uma verdade. Contudo, apesar de sermos falíveis, somos diferentes, e por isso não acredito que todas as opiniões se equivalham:
algumas pessoas acham com x, outras com ch, ao menos do
meu ponto de vixta.
Excelente texto. Infelizmente e a nossa realidade atual o excesso de "X" axismo sufocando o achismo ponderado.
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