“Enquanto
não encontro a certa, vou me divertindo com as erradas”, disse-me um amigo para
explicar seu comportamento, quando ainda éramos adolescentes. De lá pra cá,
acho que pouca coisa mudou, embora já não sejamos tão jovens. Uma certa maturidade
deixa-nos mais cuidadosos e seletivos (sim, há exceções), mas isso não quer
dizer que a fila estacione...
Na
realidade, é muito difícil encontrar a pessoa certa. Existe, aliás, a pessoa
certa? Quanta sorte precisamos ter para encontrá-la? Ou é nossa disposição
interior que torna alguém certo? É muito cômodo pensar que a questão resida
exclusivamente no outro. Entre outras coisas, nós nos eximimos de
responsabilidade quando estamos sós (a pessoa certa ainda não apareceu) e quando
o relacionamento não dá certo (a culpa era do outro, inadequado para nós). Ainda
que a custo do auto-engano, pensar assim é reconfortante, pois fica mais fácil
mascarar nossos defeitos e menos doído engolir as decepções que enfrentamos.
Convém
notar, entretanto, como empregamos as noções de certo e errado para tratar dos
relacionamentos: buscamos a pessoa certa, na hora certa, para que o
relacionamento dê certo. Não é estranho? O relacionamento é para dar certo ou
para ser bom? Ou será que ele só pode ser bom se for certo? Pelo que nossas
falas revelam, somos assombrados pelo fantasma da certeza. Queremos segurança. Importa-nos
ter garantias, sobretudo quanto à fidelidade e duração, mas também quanto à
nossa intimidade. É assim que ainda vivenciamos os relacionamentos quando os
queremos sérios (reparem o adjetivo: sério). Talvez tudo isso indique uma
incapacidade de lidar com nossos medos, uma necessidade de nos proteger de
antemão das inevitáveis desventuras. Não queremos correr riscos quando se trata
do amor. Queremos o impossível.
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