Ainda
pensando sobre a noção de certeza para qualificar os relacionamentos, tenho me
detido na fórmula “pessoa certa”. Acho-a intrigante e me pergunto o que de fato
significa. Evidentemente, meu interesse não é fazer um inventário das combinações
de qualidades a que nos apegamos ou defeitos que nos repelem. Essa seria uma
tarefa inglória. Cada um define a “pessoa certa” conforme seus desejos e
limitações, e eu, felizmente, estou livre do impulso de julgar a preferência
alheia. Reconheço a diversidade de nossas inclinações e tendo a acreditar que
os mais variados tipos podem encontrar seu par, se é mesmo verdade, como
brincava minha avó, que não há pé fedido que não encontre seu sapato.
Entretanto,
a despeito de toda variação que pode haver em nossas preferências, creio ser
possível apontar um ponto comum. Não me refiro a uma qualidade que todos
busquemos, mas a um padrão de comportamento: ao pensarmos em termos da “pessoa
certa”, concentramos nossa atenção no outro, no objeto do amor, e inevitavelmente
depositamos sobre ele as expectativas para o relacionamento vingar.
Raciocinamos mais ou menos assim: “quando aparecer a “pessoa certa”, vou
conseguir me abrir e me entregar, vou conseguir ser e fazer o que sempre quis e
nunca dei conta”. O pressuposto desse raciocínio é que estamos prontos para
amar. Se ainda não amamos, é porque a “pessoa certa” não apareceu, porque não
tivemos a sorte de topar com ela.
E é
justamente esse pressuposto que merece ser analisado. Se a “pessoa certa” vier
a aparecer, estaremos mesmo preparados para amar? No ideário da “pessoa certa”,
nós nos preocupamos em ter claras as qualidades que buscamos e estamos sempre
afiados para avaliar as pessoas que conhecemos, normalmente para apontar algum
aspecto que não nos satisfaz. Mantemos os olhos voltados para fora, por assim
dizer, e freqüentemente pouco nos importamos em voltá-los para nós. É claro que
o outro é fundamental, que temos de encontrar alguém com que nos
identifiquemos. No entanto, penso que nos enganamos com a ênfase dada ao objeto
do amor, porque deixamos de nos perguntar sobre nossa capacidade de amar.
Tendemos a tomá-la como dada, como se a tivéssemos de antemão, como se realmente
estivéssemos prontos. Acredito, com toda sinceridade, que não poderíamos estar mais
iludidos.
Estranho pensar em capacidade de amar ... o sentimento de amor é ou não é próprio do ser humano ?!
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