Eu
queria que estivesse aqui,
mas
sei que nunca estará.
Por
isso eu guardo minhas coisas inúteis
–
ouvidos, pele, uma foto da infância –
e
encubro confissões engolindo o jantar não partilhado.
Às
vezes escrevo, às vezes leio,
até
filmes tento assistir,
busco
afazeres no tempo que eu desejava perder.
Já
que não vem e jamais virá,
tenho
de me recompor,
ater-me
ao essencial:
desejar
algo que não seja seu corpo.
Tenho
de deixar de ensaiar gestos,
de
reservar no armário a segunda toalha,
de
planejar o café para a manhã seguinte.
Preciso
voltar a fazer sentido,
recuperar
o olhar para o desimportante:
pensar
nos trabalhos e contas,
combinar
calça e meias,
indignar-me
com as injustiças do mundo.
Preciso
encontrar um novo começo,
restaurar
a ilusão de que a vida é possível.
Marcelo: essa é a dor essencial. A que sempre me assusta e da qual, cada vez mais nítido, percebo que me esquivo covardemente...
ResponderExcluirCaro Marcelo, desde que comecei a ler sua postagem das Baladas que acho que você estar sofrendo por amor ou por falta de um amor. Mas ao mesmo tempo lembro de um comentário de uma amiga que escreve perfeitamente. Certo dia perguntei se determinado escrito dela traduzia seu íntimo e para minha surpresa ela disse que não. Eram apenas palavras "jogadas" em seu blog. Até hoje aquela resposta causa-me espanto. É possível escrever determinadas coisas sem perpassar sua história de vida? É possível se esconder por traz de linhas bem elaboradas?
ResponderExcluirPara mim, não.
No entanto, Marcelo senti-me tocado (a) por sua postagem. Eu acabara de secar as lágrimas antes de ler, pois eu estou sofrendo devido um amor não resolvido, onde sou atormentado(a) pelo medo de ficar só. Maldita solidão que me escraviza.
Caso você, realmente, esteja sofrendo sinta se apoiado.
"Preciso voltar a fazer sentido": não sei, podia ser um clichê pelo qual eu passasse desapercebido. Mas, nesse texto, é um clímax estonteante!
ResponderExcluirsua armadura anda enferrujada, velho amigo...
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