terça-feira, 23 de março de 2010

Tempus Fugit


Recentemente, fui acometido por um forte sentimento de efemeridade da vida. Consigo imaginar algumas razões para que tenha despontado com tanta força nos últimos dias, sentimento esse que vez por outra me acompanha, mas sinto-o agora como nunca antes, sinto-o como um desejo candente de viver e desfrutar bons momentos.

Ando cada vez mais descrente de grandes sentidos, epopéias e outros absolutos. Volto-me à vida miúda, às pequenezas do dia-a-dia, e tenho-as em alta estima: um café com a mulher amada, uma caminhada com um velho amigo, uma brincadeira com o primo criança. Já que estamos sob a sombra da morte, o que mais nos resta senão aproveitar os bons instantes?

Todos sabemos, como é comum dizer, que a vida passa, que tudo passa, que todos morreremos, que a vida é breve. Isso se tornou proverbial. Entretanto, de tão batido, perdeu o significado. Falando como papagaios, inconscientes do sentido do que pronunciamos, escapa-nos a tarefa mais importante: integrar o discurso à vida, transpor a louvação do presente da palavra à carne.

Assumir a mortalidade, a finitude de nossa existência, é mesmo algo difícil. Não é à toa que inúmeras tradições valeram-se de artifícios mnemônicos para manter à luz a incômoda verdade: o tempo é fugaz. Um preceito, uma caveira, uma ampulheta, a imagem de nuvens, uma bolha de sabão, mandalas de areia – tudo o que nos indica a impermanência nos remete ao essencial. Só há sabedoria na morte.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Citação IV: Carlos Drummond de Andrade

A Palavra Minas
“Minas é uma palavra montanhosa.” (Madu)
Minas não é palavra montanhosa.
É palavra abissal. Minas é dentro e
fundo.

As montanhas escondem o que é Minas.
No alto mais celeste, subterrânea,
é galeria vertical varando o ferro
para chegar ninguém sabe onde.

Ninguém sabe Minas. A pedra
o buriti
a carranca
o nevoeiro
o raio
selam a verdade primeira, sepultada
em eras geológicas de sonho.

Só mineiros sabem. E não dizem
nem a si mesmos o irrevelável segredo
chamado Minas.