Eu
queria que estivesse aqui,
mas
sei que nunca estará.
Por
isso eu guardo minhas coisas inúteis
–
ouvidos, pele, uma foto da infância –
e
encubro confissões engolindo o jantar não partilhado.
Às
vezes escrevo, às vezes leio,
até
filmes tento assistir,
busco
afazeres no tempo que eu desejava perder.
Já
que não vem e jamais virá,
tenho
de me recompor,
ater-me
ao essencial:
desejar
algo que não seja seu corpo.
Tenho
de deixar de ensaiar gestos,
de
reservar no armário a segunda toalha,
de
planejar o café para a manhã seguinte.
Preciso
voltar a fazer sentido,
recuperar
o olhar para o desimportante:
pensar
nos trabalhos e contas,
combinar
calça e meias,
indignar-me
com as injustiças do mundo.
Preciso
encontrar um novo começo,
restaurar
a ilusão de que a vida é possível.