Quando eu for criança
e o futuro enfim dormir no meu colo,
não buscarei redimir o passado
ou alentar a filha de Pandora.
Qualquer ânsia será inútil
e o espírito não conhecerá revolta.
Aceitarei o que me for ofertado
sem jamais me inebriar
ou lançar-me nos braços de Hypnos.
De bom grado me farei leviano,
amante de deuses efêmeros:
tulipas, cigarras e dança.
Incólume, a flauta sempre à mão,
desprezarei as horas sérias
cuspindo nos olhos de Chronos.
Antes, muito antes da conflagração dos séculos,
o tempo plenamente restaurado,
a eternidade habitará meu corpo,
mapa de todos os encontros,
morada ctônica de Sige e Eros.
Quando eu for criança,
e só quando for criança,
junto a meu ouro e prata porei à parte o butim de minhas guerras
e a sede oculta pelo espólio de meus inimigos.
Os mortos, todos, haverão de permanecer sepultos,
inumados em inaudita paz,
assim como o vão desejo pelo canto de Homero.
Nenhum comentário:
Postar um comentário