segunda-feira, 15 de junho de 2009

António Alçada Baptista

Ainda trago na memória a entrevista que me permitiu conhecer António Alçada Baptista, de cuja morte apenas recentemente soube. Recordo-me de seus óculos, de seus cabelos grisalhos, da delicadeza de suas palavras. Marcou-me sobremaneira sua apologia do afeto, se é que posso assim me exprimir, de modo que logo fui buscar algum de seus livros. Encontrei O Tecido do Outono, o qual me tocou profundamente a ponto de me considerar um novo homem após a leitura. Daí, iniciei a caça a outros, difíceis de encontrar, já que não editados no Brasil ou esgotados há muito. Foi o caso d'O Riso de Deus, d'Os Nós e os Laços, Peregrinação Interior I e II, do Tempo nas Palavras e, mais recentemente, d'A Pesca à Linha.
Alçada, como intimamente o chamo, adquiriu certa proeminência em Portugal, embora aqui, no além-mar, tenha assomado pouco mais que a notoriedade de sócio da Academia Brasileira de Letras. Pai de sete filhos, o que para mim é significativo, parece sempre ter navegado os mares do amor e de Deus, elaborando os conflitos oriundos de uma educação tradicional sem descurar dos desafios e incongruências do tempo presente. Sua literatura é marcada pela suavidade e beleza com que vive e demonstra os sentimentos. Como ninguém mais, singrou o oceano da afetividade com o espírito tão forte e tão frágil como pode ser aquele de quem cruza um Atlântico para desbravar a mais incógnita de todas as terras: a sensibilidade.
António Alçada Baptista
Covilhã, 29 de janeiro de 1927
Lisboa, 07 de dezembro de 2008

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