segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Do Desejo por Homero

Hoje, tanto quanto ontem, muitas pessoas desejam ser famosas. É uma aspiração humana e perene, indestrutível como a de vencer a morte. A fama, contudo, tradicionalmente entendida como coroação de um grande feito, tem assumido novos contornos, os quais não se devem aos cantos de novos poetas. O mérito – artístico, científico, esportivo, político, moral, quem sabe até o mérito militar – anda em baixa, anda muito em baixa. Pouco valem as razões para a fama, que se pode ganhar por qualquer motivação, ainda que vil, abjeta, mesquinha. Queremos ser lembrados, queremos ser notados, não importa o porquê.

Hoje, muito mais que ontem, vivemos como se o anonimato fosse desprezível e tentamos a todo o tempo e a qualquer custo angariar a atenção de quem nos cerca. A vida simples e comum, que é a vida da maior parte de nós, foi taxada de ingênua e entediante, de comezinha. Por causa disso, nos aventuramos pelo dia-a-dia com ares de desbravador ou príncipe, quando na verdade apenas fantasiamos a vida ordinária em conformidade com a ilusão com que pretendemos nos enaltecer. Relutamos em ser pessoas comuns.

Vivemos como se fosse preciso ser grande e célebre, como se tivéssemos de redimir o cotidiano, donde o ímpeto para transfigurarmos a nós mesmos em personagens que não somos, inflarmos nossas ações em feitos que jamais faremos. Queremos que nossa história seja memorável, que nossa vida seja uma epopéia, mesmo se não passa de uma presepada.

Vivemos sem saber que extraordinário é ser simples.

Um comentário:

  1. Resta-me um sucinto comentário acerca da exímia postagem, a qual é acompanhada de um fascinante convite para se pensar e depois repensar mais um pouco a respeito da "importância" e dependência da fama e do mérito versus o anonimato e a simplicidade perante a brevidade da vida.
    Penso que a fama, o mérito, o status e o poder resultam em frivolidade, que tem seguidores fíeis e uma fila de seres desfigurados e carentes de atenção desejando, ardentemente, saciarem-se de seus "benefícios".
    Eles e nós pobres mortais!
    Não adianta repetir o que Marcelo escreveu, devo apenas meditar em suas palavras e indagar-me se, realmente, tenho percebido que viver é extraordinariamente ser simples.

    Mas o que é viver?


    Luciana Silva

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