segunda-feira, 17 de maio de 2010

Onírico

Quando o sol está para nascer
e o orvalho ainda cobre a grama,
a criança desfruta do sonho
de que não se lembrará.

Ela brinca de bola
com amigos desconhecidos
num campo amplo, aberto como a infância.
Seus risos e gritos somam-se aos de seus companheiros
na dança incessante dos corpos de éter.
Nela, como nos outros,
o suor banha o rosto,
o movimento é ágil e leve,
fruto espontâneo dos passos sem cálculo.
Todos os meninos estão absortos
– ninguém olha o longe,
ninguém pensa em ser feliz –
e os pés não cansam de buscar o drible
no jogo – perfeito – em que é desnecessário vencer.

Neste instante, no qual toda a sede
é sede de brincar,
a criança nem desconfia
do que a vigília lhe ensinará:
o sonho é expressão da vida
e sua mais nítida contradição.

2 comentários:

  1. Recordei o meu tempo de criança, lá no sítio Mata Redonda. Era de praxe brincar com o orvalho quando eu ia, cedinho, para a escola na cidade.
    Machucava-me muito ao brincar de bola, preferia correr; subir em árvores; colher as frutas mais altas, eram as mais gostosas.
    Ah, teve um dia que quase eu morri.
    Subi num “pé” de siriguela, quebrei quatros galhos e cai próximo a um profundo reservatório de água (cacimba). Não tinha nenhum adulto por perto, fiquei um bom tempo imóvel no chão. Primeiro pensei que eu tinha morrido, depois tive medo de ter quebrado meus inúmeros ossos, desprotegidos pela falta de tecido adiposo. Levantei ilesa e com dó das galhas quebradas.
    Aquela queda não me intimidou, continuei com as minhas travessuras de criança da zona rural.

    E os meus sonhos?

    Sonhava em brincar de pula-pula nas nuvens.
    Sonhava em ganhar de presente um tapete voador (igual ao do personagem Aladdin)
    Sonhava em ter asas para brincar com os pássaros.
    Sonhava em ser gente grande.
    Um dia - não lembro qual foi – eu cresci.
    Descobri que nem é tão bom assim ser adulta.
    Naquele tempo tudo era colorido naturalmente, hoje insisto em sair do preto e branco e deixar minha vida ter algumas cores diferentes da normalidade moderna.
    Existe noites que são longas demais. Os lindos sonhos que foram outrora, às vezes, transformam-se em pesadelos.
    Descobri que a falta existe, é real.
    Percebi que se eu deixar a criança travessa do meu interior morrer, não enxergarei o mini arco-íris que se forma no momento em que o aspersor está molhando a grama.
    Não saberei distinguir a canto do pássaro do ronco do motor do ônibus.
    Terei dificuldades em ver as coisas simples da vida.
    Insisto nas frutas/verduras orgânicas, elas têm um sabor parecido com aquelas da minha infância.
    E as nuvens?
    Continuo olhando para elas, sossegam minha alma.

    E os meus sonhos?
    Hum!!!
    São muitos.


    “A chuva brinca de cair no telhado,
    Pingos caem e molham meu rosto.
    Corro para casa e fico na janela.
    Sinto o cheiro da chuva, vejo-a escorrer no terreiro que brinco.
    Espero a chuva passar,
    Corro descalça e brinco na lama.
    A chuva deixa marcas na brancura de minha roupa,
    A lama da chuva, faço chuva de lama.
    Trim...Trim...Trim... faz o despertador.
    Acordo.
    Não está chovendo,
    E tenho o horário da agenda a cumprir.”


    Aline Rodrigues

    ResponderExcluir
  2. Quando eu era pequena, ainda me lembro, também tinha muitos sonhos (hoje ainda tenho alguns, mas não conto pra todo mundo), um deles também era o de ser adulta (o que, descobri, não é tão ruim). além de um helicóptero invisível, juro, eu tinha um tapete de aladdin. era uma toalha velha que estendíamos no quintal de uma casa (uma das últimas) na rua Domingos Vieira, em Santa Efigênia (hoje tem um prédio grande lá, não tão grande quanto a casa). eu e minha irmã subíamos e sentávamos no tapete, cada hora uma. enquanto uma subia, a outra ficava sentada num banquinho ouvindo a outra (a outra uma) falar dos lugares e das coisas vistos lá de cima, lá também havia perigos... o medo maior era o de dar de cara com um avião. eu tinha um tapete de aladdin, juro, e ainda me lembro.

    Janaína.

    ResponderExcluir