quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Útil - Uma Palavra

Por uma série de razões, ando pensando sobre a noção de utilidade. Ela é uma velha conhecida da filosofia, que sempre teve de se posicionar frente à acusação de inutilidade. Há mais de dois milênios, não falta quem diga que só importa o que podemos empregar na vida cotidiana, instrumentalizar de modo a conseguir alguma coisa de prático e vantajoso. Filosofia não mata a fome, não erige casas, não conserta a torneira, não extrai edemas, não aquece o corpo... A filosofia – não!

Acontece, contudo, que temos fome para além da comida, buscamos proteção para além das paredes, sentimos dores que não são do corpo, tememos um desamparo que penetra o lar. Basta nos permitirmos uma pausa e rapidamente nos apercebemos que a vida ultrapassa em muito as necessidades imediatas. Para viver bem, é insuficiente ater-se à satisfação dos anseios diretos e urgentes. Que o digam os abonados, senhores do tédio e fastio!

Se o pão, se o tijolo, se o martelo e mesmo o ouro têm valor, seu valor é o de instrumento. Eles nos permitem tocar os dias: são muitos úteis, portanto, mas apenas para pôr ordem na coxia do cotidiano e dar ensejo ao que se passa no palco. O fundamental não são as ferramentas, nem a preparação que antecede a abertura das cortinas. É a peça: a peça sem roteiro, sem marcas e sem direção em que dia a dia se desvela a história de nossos cacos.

Um comentário:

  1. Chegaremos um dia a ter a mínima noção do que significa esse teatro humano? Se até você, caro amigo, com essa mente límpida e essa consciência vasta, sente que o drama da vida é sem roteiro e sem direção, que diremos nós, os de mente turva, os confusos?
    E então, o cara do vídeo, o ladrão, está mais perto ou mais longe de saber qualquer coisa?



    Foi bom te ler, como sempre.

    "Com sol e chuva, você sonhava...
    Que ía ser melhor depois...
    Você ainda pensa e é melhor do que nada

    Tudo o que você podia ser
    Ou não" (MN)

    Abraço,
    Raquel

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