sábado, 11 de junho de 2011

A velha bate à porta

A velha bate à porta
para abrir-nos a via estreita,
escorreita ela se desforra
do riso, do beijo, da não-maleita.
Sua força, ás franzino,
vem do toque eterno da morte,
dela mesma, anciã menina,
velha-jovem que se renova
na súbita e esperada batida
não do peito, mas à porta
que a alguns alucina
e muito não demora.

A porta em que ela bate
sempre esteve no trinco.
Trancá-la à chave só cabe
à sede seca – chumbinho.
Mas isso nada não é
senão abri-la sozinho,
abri-la por dentro e de chofre
no desespero menino
que não joga o jogo da sorte
que cospe o sublime acepipe:
a vida, os inúteis caminhos.

(Maior iguaria não há,
nem menor não existe,
mas desfrutá-la só faz
quem ao tempo resiste
andando por vias errantes
antes da sabida visita.)

E não há vingança envolvida
em todo o macabro processo.
E nem há processo macabro
na mão a bater à porta
na vida a que se dá cabo.
Quando a velha vai à forra,
não se vinga, se completa
o tempo que já não sobra,
ninguém mais anda, nem erra:
é o segundo em que se acorda
ou o que em paz se dorme,
é o tempo sem vagueza
que não brinca, não faz hora
marca o passo, acaba o ciclo,
acerta a hora das horas.

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