segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A carta possível

pra Passiflora

Sei da estrada de terra,
do casório na capela,
e da ceia da tarde
como um domingo na avó.

Sei das mesas dispersas,
da quadra coberta,
de dois vira-latas,
da pinga e dos maruins.

Sei das modas de viola,
dos doces da roça,
da minha falta de jeito
de olhar teu vestido azul.

Sei da festa na praia,
na outra cidade,
continuando a festa
que não quer saber de ter fim.

Sei do meu corpo cansado,
das estrelas na grama,
do meu copo de vidro,
da grappa e do trago.

Sei do som de improviso,
da dança e alguns passos,
dos meus olhos altivos,
da tua mão na minha barba.

Do teu toque eu meu rosto,
eu sei, sei hoje como soube ontem,
como soube sempre
desde aquele dia, daquela noite,
daquele céu escuro de dezembro,
início de verão
e do meu não-saber.

Um comentário:

  1. Se essa confissão de não-saber, repleta de memórias, sutilezas e texturas, é sua única carta possível, já é um alento.

    [acalento pra uma urgência que demora a sossegar]

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