quarta-feira, 13 de junho de 2012

Luz da Lua I


É certamente um lugar comum falar da correria do dia-a-dia. Quem, de uns tempos para cá, não anda sem tempo? Todo mundo, vez ou outra, recorre a essa fórmula para se desculpar de algum descaso, safar-se de um telefonema que não retornou ou fugir de alguém inconveniente. É uma fórmula prática, convenhamos, e socialmente bem aceita, embora escandalosamente falsa.

Sempre temos tempo para o que nos interessa. Sempre encontramos um tempo para o que de fato nos importa, a despeito de qualquer correria. As outras coisas, bom, a gente empurra com pretextos, a gente vai levando. Não estou seguro, mas acredito que este é um modo de nos protegermos das inúmeras demandas que recaem sobre nós e que não queremos (e às vezes realmente não podemos) atender. Se é verdade que corremos o tempo todo no dia-a-dia, também é verdade que, ao menos em algumas circunstâncias, nós paramos, nós nos damos o direito à demora. É o que ocorre, por exemplo, na noite.

Aliás, exatamente por ser uma pausa, a noite revela, por contraste, a maneira como temos vivido. Normalmente tensos, pressionados, centrados nas tarefas a cumprir, no happy hour ou na balada nos permitimos descontrair, baixar muito de nossa guarda e adquirir um modo mais leve de olhar o mundo, inclusive uma propensão ao riso. É o momento em que desaceleramos, como muitas vezes dizemos, sem notar a metáfora subjacente.

Tudo se passa como se vibrássemos noutra frequência, como se houvéssemos nos dado conta de nossa rudeza durante o resto do dia. Só nessas poucas horas, nas quais esquecemos terno, tailleur e relógio, olhamos o mundo sem o viés da coerência, da rapidez, da eficiência, da inteligência e de tantas outras virtudes que nos massacram. É nessas horas, nas quais muitas vezes saímos para “encontrar alguém”, sobretudo a nós mesmos, que se revela nossa simpatia esquecida, nossa vontade de amar, sempre tão represada. Na noite, e não só pela ajuda do álcool, somos mais serenos e afetuosos, revelamos uma face que insistimos em ocultar. O dia exige uma fortaleza que a noite não requer. Quem dera a balada não tivesse hora marcada, quem dera tivéssemos mais tempo a perder.

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