quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A propósito do óbvio


Conheço poucas pessoas que vão a uma boîte para escutar música ou beber. Nem sempre o som é de boa qualidade, às vezes os DJ’s são amadores e o preço dos drinks e mesmo da cerveja é mais alto do que o de qualquer boteco. Sei de algumas pessoas, contudo, que vão para a balada para encontrar amigos da noite; outras, para dançar e curtir música alta, mas a maior parte – sejamos sinceros – está interessada na caça. O que importa é descolar uns beijos, quem sabe uma boa transa, já que amor é artigo raro, se é que existe.

É nessa toada, a do desejo à flor da pele, que os encontros se fazem. Na balada, eles não demoram a acontecer, eclodem depois do tempo necessário para se percorrer a boîte, ainda que apenas visualmente, a fim de se ter uma idéia da galera: se as pessoas são bonitas, se deu gente estranha, quem vale a pena, quem não vale. Não entro no mérito desse juízo estético, o qual contém um enorme componente sócio-econômico. Interessa-me antes ressaltar que as escolhas se fazem baseadas na aparência e que os encontros se dão numa velocidade ímpar. Não há tempo para a corte. Na balada, ao ver alguém que atrai nosso desejo, vamos logo ao ataque, partimos em busca da conquista.

E, como numa guerra, a estratégia é atingir o alvo sem delongas: queremos ansiosamente ocupar o território, derrubar o inimigo. Não podemos (pois temos concorrentes) e nem queremos (já que o desejo borbulha) perder tempo: olhamos ostensivamente, estabelecemos um diálogo que se quer minimalista. Tudo é muito claro, os códigos são facilmente decifráveis. Quem, por exemplo, não compreende o que significa o posso te conhecer? Todos sabemos que é um eufemismo para quero ficar com você!, não é verdade? A balada é muito óbvia, as aproximações prescindem de qualquer sutileza.

Acredito que quem freqüenta a noite adere a um acordo tácito, segundo o qual podemos ser explícitos na demonstração do desejo e, por conseguinte, também das recusas: um “não” chapado pode sempre ser lançado na nossa cara. A balada é direta, imediatista, contundente. Acho que por isso está tão ligada ao sexo, que se presta bem a ser simples e previsível. Ao mesmo tempo, acho que é por isso que a balada enfastia. Em determinados momentos, ela simplesmente se esgota, perde a graça, como um filme pornô. Viver no óbvio cansa. O obscuro, o sinuoso, o incerto nos faz muita falta. Precisamos do que é sutil e traiçoeiro. Daí falarmos em amor.

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