terça-feira, 10 de março de 2009

Peteleco em Deus

“Tendo rido Deus, nasceram os sete deuses que governam o mundo... Quando ele gargalhou pela segunda vez, tudo era água. Na terceira gargalhada, apareceu Hermes; na quarta, a geração; na quinta, o destino; na sexta, o tempo. Depois, pouco antes do sétimo riso, Deus inspira profundamente, mas ri tanto que chora e de suas lágrimas nasce a alma.” (Papiro de Leyde, século III)
Um antigo amigo sempre me dizia que dispensava o bom humor e a benevolência de Deus, supondo que, de lá de cima, o que quer que caia chega sempre tão rápido e com tamanho peso que só pode causar estrago. É um raciocínio intuitivo, não se pode negar... O grande estrago, porém, o estrago irreversível, já está feito: a Criação está aí pra quem quiser conferir. Com um sorriso certamente malandro e um meteoro que nos arrancou a lua, a Terra aqui foi posta e sobre ela eis que pisamos. Não se sabe bem por que cargas d’água, certo é que o mundo existe e que nossos olhos, se não se enganam ou são enganados, vêem-no como coisa bem dura e real. Tratemos de não pedir mais nada aos céus, dizia meu velho amigo, além da chuva para o jardim: o que temos, por favor, há de bastar. Pra que correr o risco de ganhar um novo satélite e perder outra parte de nós? Não façamos também nenhuma gracinha e nem arrisquemos uma anedota divina. Como os planetas transladam em eterno ritmo, como com eles giramos nós e rolam outras lágrimas (as nossas), não provoquemos novos estragos, não criemos ensejo para o gracejo: agora, com motivo pra rir, Deus pode gargalhar ainda mais forte e tornar a alma imortal.

Um comentário:

  1. José Cândido:
    a criação é sutil porém forte, concreta, está aí! basta mirar e o olhos nos revelam isso que é. existir é fácil e a vida... a vida é outra história. quem sabe?
    gosto do modo como os deuses criam as coisas do mundo, é sempre de um modo tão humano (para certos deuses)...

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