O ano é 2009, mas o disco transporta-me para 1999. Dez anos se passaram, a matemática é simples. Complexo é acolher as lembranças que irrompem graças ao cancioneiro que emoldurou nosso namoro. Têm a nitidez dos fatos de ontem, mas ressurgem cobertas de pó. Dez anos! Dez! A um só tempo eternidade e instante.
Não sei dizer o que se passou com ela desde então. Será que ainda ouve Djavan? Conserva a pele rosada? Mantém as mãos macias? Haverá visitado a Alemanha para aperfeiçoar a língua que só em seus lábios sabe ser bela? Será que mora na mesma casa? Na mesma cidade? No mesmo país? Estariam vivos seus pais e irmã? Os cães? Casou-se, enfim? Tem filhos? Cria-os com delicadeza e tempo? Ensinou-os a dançar? Será que trabalha e é feliz? Será que cultiva os amigos que tínhamos? Haveria restaurado os laços com nossos desafetos? Deu voz a meus segredos? Doou meus presentes? Jogou-os no lixo? E as fotos, rasgou-as? Arrisca-se a pensar em mim? Soterrou seu (nosso, admito) primeiro amor? Quão diminuto é o lugar que ocupo em seu coração?
Sem exceção, todas essas perguntas são irremediavelmente vãs, dado que irrespondíveis. É impossível qualquer apelo. Hoje, mais que distantes, estamos afastados – no espaço, no tempo e na alma. Cultivávamos uma belíssima amizade, mas ela se desfez de chofre assim que selamos o último beijo (lembro dia, hora e local), o que me doeu terrivelmente. Era como se apenas um profundo rompimento pudesse de fato nos separar. Mas era mesmo? Manter a amizade não teria sido possível? Se éramos uma dupla muito antes de formar um par, seria realmente inviável retornar à condição de amigos? Por que desperdiçamos uma amizade tão límpida e sólida? Será que essa pérola nunca existiu?
Insisto nas perguntas vãs. Temo reconhecer que nos lançamos em ostracismo e acabamos por banir todo laço patrício. Não terá fim o exílio de nosso afeto? Nunca mais nos abrimos à alegria e surpresa que, antes de tudo, nos unira. Sequer nos vimos uma vez mais. É uma pena que o amor ou a amizade possam se desfazer como uma miragem, mesmo quando foram uma miragem verdadeira e real.
Não sei dizer o que se passou com ela desde então. Será que ainda ouve Djavan? Conserva a pele rosada? Mantém as mãos macias? Haverá visitado a Alemanha para aperfeiçoar a língua que só em seus lábios sabe ser bela? Será que mora na mesma casa? Na mesma cidade? No mesmo país? Estariam vivos seus pais e irmã? Os cães? Casou-se, enfim? Tem filhos? Cria-os com delicadeza e tempo? Ensinou-os a dançar? Será que trabalha e é feliz? Será que cultiva os amigos que tínhamos? Haveria restaurado os laços com nossos desafetos? Deu voz a meus segredos? Doou meus presentes? Jogou-os no lixo? E as fotos, rasgou-as? Arrisca-se a pensar em mim? Soterrou seu (nosso, admito) primeiro amor? Quão diminuto é o lugar que ocupo em seu coração?
Sem exceção, todas essas perguntas são irremediavelmente vãs, dado que irrespondíveis. É impossível qualquer apelo. Hoje, mais que distantes, estamos afastados – no espaço, no tempo e na alma. Cultivávamos uma belíssima amizade, mas ela se desfez de chofre assim que selamos o último beijo (lembro dia, hora e local), o que me doeu terrivelmente. Era como se apenas um profundo rompimento pudesse de fato nos separar. Mas era mesmo? Manter a amizade não teria sido possível? Se éramos uma dupla muito antes de formar um par, seria realmente inviável retornar à condição de amigos? Por que desperdiçamos uma amizade tão límpida e sólida? Será que essa pérola nunca existiu?
Insisto nas perguntas vãs. Temo reconhecer que nos lançamos em ostracismo e acabamos por banir todo laço patrício. Não terá fim o exílio de nosso afeto? Nunca mais nos abrimos à alegria e surpresa que, antes de tudo, nos unira. Sequer nos vimos uma vez mais. É uma pena que o amor ou a amizade possam se desfazer como uma miragem, mesmo quando foram uma miragem verdadeira e real.
Oi Flávio!
ResponderExcluirBom?
é o Ciro, da oficina de filosofia.
Gostei demais desse e de outros escritos seus aqui.
cirotre@hotmail.com
Mantenha contato, cara.
Abraço!
Marcelo Centauro,
ResponderExcluirO texto “O que o vinho não faz?” é o melhor de todos, até o momento. Claro, simples e encantador. Lembrou-me o poema “Amar”, de Carlos Drummond, que segue logo abaixo.
Amar
Carlos Drummond de Andrade
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho,
e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor à procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa, amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.
Felicidades,
Diana S. Castro