sábado, 1 de agosto de 2009

Potó

pro Angelocópi, o ateu
Tenho um amigo, um pouco chegado à entomologia, que brinca dizendo que, se Deus existe, ama insetos mais do que tudo. Pois é inegável: há tantos e tão variados que é impossível nos furtarmos à conclusão de que são eles, e não nós, os preferidos do Criador.

Grandinhos, médios, pequenos, minúsculos; nojentos, curiosos, coloridos; voadores, terrestres, aquáticos; silenciosos, sorrateiros, barulhentos, estridentes; fedidos e inodoros; lentos, rápidos, intrépidos; inofensivos, chatos, ameaçadores – longevos, adaptáveis e incrivelmente diversos, que outro grupo do reino animal foi criado com tamanho esmero?

Há alguns meses, tive a oportunidade de tomar conhecimento de um dos constituintes desse verdadeiro universo: o potó. Na ocasião, uma amiga apontou-o como causa de umas bolhas que lhe apareceram na perna. Surpreso com a magnitude do estrago, pedi que o descrevesse, dado que nunca ouvira falar daquele bicho. Achei o relato estranho porque o inseto, dito terrível, seria diminuto. Deve ser troça, pensei. Chegando em casa, recorri ao Aurélio para orientar-me e descobri que era verdade, mesmo não obtendo uma confirmação de seu tamanho.

Potó [Do tupi.] Substantivo masculino. 1. Bras. Amaz. Zool. Inseto coleóptero, estafilinídeo, gênero Paederus, cuja secreção, de propriedades cáusticas e vesicantes, produz lesões na pele, como eritema, prurido, vesiculação e ulceração, às vezes extensas e numerosas, rebeldes ao tratamento. [Sin.: potó-pimenta, pimenta, papa-pimenta, burrico, trepa-moleque.]

A descrição é técnica, mas podemos inferir o fundamental. Só faltou dizer quanto tempo as lesões levam para melhorar. Nada posso garantir, mas ouvi dizer que, dependendo da extensão e da localização, pode custar até três meses. Por experiência própria, já que acabei por não escapar de uma sorrateira investida, atesto que minha queimadura, surgida ao esmagar um na nuca enxugando-me após o banho, levou quase dois meses para desaparecer. E como ardia!

Tal qual a imagem deixa entrever, o potó mede cerca de dois centímetros, se é que chega a tanto. Seu estrago é imenso e inversamente proporcional ao tamanho. Uma verdadeira desmesura: por que tanto poder para animal tão insignificante? Arrisco-me a dizer que Deus errou feio ao criar os insetos e especialmente, ainda mais do que a barata e o barbeiro, o potó. Deus, contudo, não deve ser culpado desse erro terrível, pois tem uma boa desculpa: a de não existir.

PS: Ou, quem sabe, a de atazanar os descrentes.

Um comentário:

  1. HAHAHAHAHA! Boa, companheiro! Seu senso de humor tá afiado! Ah, por acaso, achei aqui na internet o que seria “um remédio pra mijada de potó: um piniquinho. Para aperfeiçoar o invento [...] só falta agora ensinar o potó a sentar no piniquinho”. HAHAHAHA!

    E, olhe, se a desculpa de deus para ter criado o potó foi a de atazanar os descrentes, ele devia ter avisado os bichinhos, viu. Porque, que eu saiba, ele não causa estragos apenas em ateus não! (E eu também nunca fui molestado por eles) hehehehe

    Abraço!

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