segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Por uma Filosofia da Balada I


We found love in a hopeless place. Eis o refrão de uma música bastante tocada na noite. É de uma canção que conheci muito recentemente e à qual nunca havia dado grande atenção até reparar sua letra. Confesso que a escuto com um sorriso nos lábios, pois acho uma grande ironia a massa informe das boates repetir aos gritos uma afirmação tão inverossímil.

Who has ever found love in a hopeless place?, pergunto a mim mesmo, sem vislumbrar qualquer resposta. Concebo a noite como a expressão máxima do “Quadrilha” do Drummond: João amava Tereza, que amava Raimundo, que amava Maria... E digo expressão máxima porque não há lugar onde se dê maiores desencontros do que na noite.

Durante certo tempo (e às vezes até hoje), saí (e saio) pras baladas nutrindo certa esperança de encontrar alguém com quem possa estabelecer um vínculo que ultrapasse o ficar. Mas a verdade é que a gente logo se desencanta ao se dar conta, depois de desencontros mais ou menos dolorosos, que está a buscar uma agulha no palheiro. A impressão que se tem é que ninguém quer nada sério, como normalmente se diz. Às vezes, chega a assolar-nos um desânimo profundo, que nos afasta da noite, desânimo proveniente do desejo ferido pela busca do quase-impossível. Who, who, who has ever found love in a hopeless place?

E não é pra menos, a gente há de convir. ‘Boate’ vem do francês boîte, caixa, e realmente parece não passar disto: uma caixa cheia de peças que, sacolejadas por um DJ, são levadas a ter encontros aleatórios umas com as outras. Fosse outro o sacolejo, outros seriam os encontros, ou melhor, desencontros. Como se percebe acompanhando as baladas, tudo (as músicas, os passos, as bebidas, as roupas, os lugares) se repete desesperadamente, exceto o arranjo – sempre variável – das peças, que em nada é afetado quando uma delas decide sair, quem sabe por desilusão, quem sabe por pensar no J. Pinto Fernandes, se é que ele ainda quer entrar na história.

5 comentários:

  1. Vai ver, se a gente aumentar o escopo desse "hopeless place", o refrão faz sentido. Vai que o que se passa dentro dessa caixa é apenas emulação - torta, é verdade - do que se passa fora dela. Aí, o mundo inteiro vira um "hopeless place" e a pergunta seria "where else can we find love?".

    Abraço, meu velho.

    ResponderExcluir
  2. Fui a uma balada, recentemente, surpreendi-me não dando atenção ao meu companheiro porque eu estava "apreciando alguns comportamentos bizarros". De início as mulheres desfilavam com seus vestidos da moda(quase todos iguais) e suas maquiagens,as quais escondiam suas verdadeiras belezas não aceitas. A maioria delas pareciam bonecas e princesas bem comportadas, lá pelas tantas da madrugadas as cinderelas viraram gatas desmaquiadas e embriagadas. Foi onde vi as calcinhas de algumas, quando ao som do pagode desciam até o chão sem nenhuma vergonha. Nossa! Foi engraçado o antes e o depois. Questionava o que faz uma mulher mostrar sua calcinha em público? Seria apelo ao amor eros? Who has ever found love in a hopeless place? Acho que falta esperança quando o principe/princesa não chega a tempo e pega-se qualquer um(a). Ama-se qualquer um(a). Então João ama ... e Maria ama... Ah, não deu tempo João e Maria perguntarem os nomes de seus ficantes.


    Aline Rodrigues

    ResponderExcluir
  3. Bastante coerente sua análise, Flavim! Sinto a mesma coisa: almas solitárias que vão pra balada, creem em um encontro, maaas.. será que saem de lá mais desencontradas e solitárias do que nunca? Sinto esse efeito colateral na pegação por vezes. E fico triste imaginando qual a possível outra alternativa...

    Mas acho que a gente não deve duvidar tanto da capacidade da vida de nos surpreender. Meus pais, por exemplo, se conheceram numa balada, oito anos depois eu nasci! =D kkkkkkkk Tô brincando (embora seja verdade). Mas eu mesmo já vivi surpresas, não só encontrando (obviamente com raridade) pessoas mais atenciosas, mas também pessoas que nos ligam no dia seguinte e nos outros vários dias que sucedem uma aparentemente corriqueira e descompromissada pegação.

    De toda forma, acho que esse quadro de "encontrar uma agulha no palheiro" não se restringe apenas ao ambiente "baládico", acho que abrange todo e qualquer locus de interação social.

    O assunto dá muito pano pra manga!

    ResponderExcluir
  4. Você sabe que nunca fui muito de balada, exceto aquelas sessões de esquizodança, que subiam à categoria de terapia existencial. Não é que eu não tenha sido sedento: é que sempre senti muito sono de noite. Pra morcego eu não prestava. E agora ando tão caseiro que só de pensar nas luzes e no barulho (e em dormir tarde) fico de ressaca. Mas quero ler mais coisas sobre sua filosofia da balada. Dizem que a gente pensa mais é sobre o que a gente faz, não é? Dá pra ver o quanto sua vida continua noctívaga. Tá durando, hein?... A pacata Itabira anda despertando gigantes adormecidos (não nas noites de Itabira, é claro)...
    Abraço,
    Pires-d'Almeida-morto-redivivo-sabe-se-lá-pra-quê.

    ResponderExcluir
  5. adorei essa idéia de filosofia da balada.

    ResponderExcluir