terça-feira, 19 de junho de 2012

Luz da Lua II


Com toda sinceridade, realmente penso que, na noite, nosso comportamento é muito singular, quando comparado com o do dia. É claro que continuamos competitivos, que muitas impaciências e preconceitos permanecem conosco (ou se acentuam) e assim por diante, mas acho que, num certo sentido, é inegável que nos permitimos coisas que, à luz do dia, dificilmente nos permitiríamos.

Um pequeno exemplo: na balada, podemos olhar as pessoas nos olhos, podemos compartilhar uma dança, oferecer uma bebida, podemos nos aproximar, puxar assunto e arriscar um beijo sem que isso soe desrespeitoso ou invasivo, a menos que sejamos grosseiros. Não é surpreendente? Não é surpreendente que nós, normalmente tão resistentes a aproximações de estranhos, reservemos um momento de nossas vidas para sermos receptivos, para baixarmos a guarda?

Nesse sentido, acho o ficar especialmente interessante, sobretudo quando acompanhado de gestos de carinho. Pensemos bem: duas pessoas que nunca se viram encontram-se na noite e, de repente, depois de umas poucas palavras ou talvez nenhuma, estão se beijando, trocando abraços e sorrisos, rostos quase colados, mãos quentes oferecendo afagos. Não é intrigante haver tamanha cordialidade entre pessoas, até pouco antes, completamente desconhecidas?

O que há conosco para, na balada, adquirirmos tal propensão ao afeto? Onde mantínhamos a afeição que a calada da noite nos faz revelar? Ou tudo é apenas efeito do álcool? Do desejo de conseguir uma transa? O que se passa para que nós, normalmente beligerantes, nos desarmemos? Teria a noite o poder de despertar o que há de melhor em nós? Ou sou eu que me iludo esquecendo-me da indiferença com que acordamos no dia seguinte ou do fastio que nos acomete sob a luz do banheiro do motel?

Um comentário:

  1. e o que há de melhor em nós se contrapõe ao fastio do dia seguinte? tenho minhas dúvidas...

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